26 de maio de 2010

III Ultra Trail Geira Romana - RESCALDO

7h24m39s  |  52km  |  106º lugar

E não é que sobrevivi à Geira Romana e já sou um Ultra-maratonista!?! :)
Eu, o Gaspar, o Germano e o Seabra!! Parabéns a estes ganda malucos que também contribuíram para o meu sucesso, pois fizémos 80% da prova juntos e a puxar uns pelos outros.

Tudo começou no domingo, bem cedo, por volta das 07:00 da manhã, quando apanhámos o autocarro em direcção a Baños (Lobios). Aqui chegados, quase 1:30 depois, tempo para um café rápido, visita da praxe ao wc e toca a aquecer que já se faz tarde. Nesta altura, o calor já se começa a sentir... Ainda estou para saber quem é que previu uma baixa de 10º nas temperaturas em Portugal Continental...
Os "romanos" Moutinho e Ribeiro fazem a saudação da praxe ("Avé César") e... PARTIDA!!!
A primeira impressão que fica logo na partida é a velocidade lenta que toda gente adopta, ao contrário das provas de atletismo "normais" onde desata tudo a correr feito doido! É que aqui, toda a gente sabe que vai sofrer, portanto, poupa-se o corpo logo de início...
Esta é a única foto em que apareço! Vou ali ao fundo, no meio da foto, de calções pretos, t-shirt vermelha e camel bak cinza às costas. Os primeiros km's fazem-se rápido e facilmente chegamos ao primeiro abastecimento, na fronteira com Portugal, e à Portela de Homem.
Logo a seguir, primeiro percalço num trilho mais técnico a descer em que me distraio a olhar para o rio Homem e, quando olho para a frente, já só vejo o chão... resultado: escoriação leve no joelho que um enfermeiro, estrategicamente colocado, se prontificou a desinfectar. Vim mais tarde a saber que naquele sítio já é tradição haver malhos e que pelo menos uma desistência causou este ano. Para mim, nada de mais, exceptuando uma ligeira contractura no gémeo e pé esquerdo que me deu água pela barba mais tarde...
Um pouco mais à frente, passámos por um dos sítios mais interessantes do percurso, na barragem de Vilarinho das Furnas, e quase sem darmos por ela, chegámos ao 3º abastecimento no Museu da Geira, ao km21. Aqui, primeira paragem técnica na ambulânica da Cruz Vermelha onde peço pomada analgésica para o pé que começava a inchar e a doer... De seguida, continuamos em bom ritmo apesar do calor começar a apertar e do percurso ser menos arborizado, o que tornava as coisas mais difíceis.
Ao km27 surge nova assistência, onde volto a pedir pomada aos bombeiros pois o gémeo começava realmente a incomodar e já corria todo torto para compensar. Como me deram uma rápida massagem enquanto comia e enchia o camel bak, a coisa melhorou substancialmente e até ao abastecimento seguinte foi sempre a andar. Chegámos a este abastecimento, aos 31km, com o excelente tempo de 3h de prova.

Estava a correr muito melhor do que pensava mas apesar de ter feito um esforço por beber constantemente, não comi tanto como devia e começava a sentir a falta de energia. Aqui descansei um pouco, comi, troquei de meias e... para frente é que é caminho! Pouco depois, o percurso deixa completamente de ter sombra e, como já passava do meio dia, o calor e a ausência de vento estoiram comigo... penosamente, quase só consigo correr quando desce ou andamos à sombra. Nesta altura, vejo um atleta no chão a ser assistido devido ao calor e abrando ainda mais com receio de ter o mesmo destino e procuro refrescar-me sempre que vejo água a correr. Quando chegamos ao abastecimento seguinte, sinto-me exausto, desidratado e cheio de dores no gémeo e no pé.

Forço-me a comer apesar de ser a última coisa que me apetece fazer e, quando me apresto para arrancar, o estômago resolve reclamar... lembro-me do atleta que vi a ser assistido e resolvo ficar mais alguns minutos à sombra a tentar recuperar. Cheguei a pensar que tinha que desistir pois cheguei a ter tonturas... no entanto, a paparoca começou a surtir efeito e lá fui eu a pé, devagarinho, para não estragar tudo.

Entretanto, com mais uma "bomba" da Isostar, recarrego energias e toca a correr outra vez... Já só queria chegar ao abastecimento seguinte pois, com 41km de prova, "só" ficavam a faltar 11km e nem que tivesse que ir de gatas até Caldelas!!! Nesta altura, senti que o cérebro "desligou" e quase deixei de sentir dores... só me lembrava do Dean Karnazes e da sua técnica "passinhos de bébe até ao objectivo seguinte". Depois deste abastecimento, o espírito estava em alta e até já cantava enquanto corria... isto, até me deparar com uma subida assim para o puxadota antes do último abastecimento aos 46km... pensava eu que era a última, mas não!
O grande teste aconteceu nos últimos 5km onde levámos com a maior inclinação de toda a prova e onde estoirei completamente. Basicamente, acabou-se a gasolina e fiquei literalmente sem forças para correr e já só caminhava devagarinho... quando finalmente cheguei lá acima, seguiu-se uma descida muito pronunciada e perigosa que fiz quase sempre a caminhar com medo de cair e de me magoar a sério. Finda a descida, estava finalmente perto de Caldelas e do final da prova... O último km foi feito quase sempre a correr (era a descer!) e quando desço as escadas de acesso à estrada que me levaria à meta, a uns 150m, sinto um misto de alegria e alívio por ter conseguido chegar ao fim desta duríssima prova.

Pensando bem, acho que na altura só senti alívio pois cheguei à meta completamente estoirado e bastante maltratado. A alegria sinto-a agora pois esta foi a minha primeira ultra maratona, sem nunca ter feito sequer uma maratona, e acho que, modéstia à parte, no meio daquele calor abrasador e das dores no gémeo, acabei por fazer uma prova do caraças pois não consegui treinar o que queria.

De um total de 143 participantes, aqui fica a estatística da prova:
- Desistências: 14
- Classificados: 129

    *Mulheres: 11
    *Homens: 118

Esta foi a primeira mas não será concerteza a minha última ultra maratona... no domingo disse o contrário, mas isso era porque sentia assim uma moideira pelo corpo todo... :))
No entanto, o objectivo de fazer o Ultra Trail da Freita já este ano tem que ficar adiado pois não tenho perninhas para 70km e 4400m de acumulado. Mas para o ano, se tudo correr como o previsto, vou lá ter uma conversinha de 12h com a Freita!!!

Uma nota final relativamente à paisagem e ao percurso. O Gerês é bonito sim senhor, mas a Freita... a Serra da Freita dá-lhe quinze a zero!!! QUINZE A ZERO!!!

18 de maio de 2010

III Ultra Trail Geira Romana

No próximo fim-de-semana, vou para o Gerês!!!
E vou tentar fazer a minha primeira ultra maratona! Só de dizer isto até me arrepio... :)
Trata-se do III Ultra Trail Geira Romana, na distância de 50km e cerca de 2.000m de acumulado. Um belo empeno, está visto... a questão é que quando vemos as fotos e a descrição do percurso na página da prova, torna-se difícil não perdermos a cabeça e, inconscientemente e tresloucadamente, fazemos a inscrição!!!
 
"A VIA NOVA, em especial o traçado entre o lugar de Via Cova, Amares e Baños de Rio Caldo, Lóbios, constitui um monumento excepcional, um património científico, cultural, pedagógico e turístico único.
A possibilidade de percorrer o caminho romano, ao longo de quilómetros, quase sem interrupções, os extensos troços de calçada, a quantidade invulgar de miliários, as ruínas de pontes sobre rios caudalosos, as pedreiras de onde se extraíam os miliários, a visibilidade da via para a envolvente, o contexto paisagístico em que se insere, formam um recurso notável."
Por razões várias, o treino nos últimos meses não tem sido o mais adequado e nem sequer o pretendido... a somar a isto, ando com umas dores nos gémeos assim para o chatas, especialmente quando corro(!), mas prontos, não há de ser nada que 50km não curem... ESPERO EU!!!

Na próxima semana, se sobreviver a isto e me tornar num Ultramarathon Men, conto como correu... :))

10 de maio de 2010

Meia Maratona de Cortegaça

Ontem fui fazer a minha 3ª meia maratona!
Foi em Cortegaça e tinha tudo para ser uma manhã muito bem passada...

Apesar de ter chuvido de caraças a noite toda, quando chegámos ao local da prova o sol começava a despontar e até fazia algum calor se não estivéssemos expostos ao vento. Levantar dorsais, a visita ao wc do costume, aquecimento da praxe e... ala que se faz tarde: seiscentos e tal atletas pela avenida fora!

Cerca de 1km depois, quando já começa a haver mais espaço entre os atletas, aumento ligeiramente o ritmo para tentar cumprir o objectivo a que me tinha proposto: 1h45m, ou seja, um ritmo de 5m/km.
Por volta dos 1,5km, vi muitos atletas alterados, a gesticular, e um homem no chão. Abrandei e quase segui sem parar porque parecia apenas uma má disposição (estavam a levantar-lhe as pernas), mas entretanto apercebo-me que o homem estava com convulsões. Como sei prestar 1ºs socorros voltei para trás para ajudar.
Quando lá cheguei, já estavam a tentar iniciar a massagem cardíaca e antes de tentar fazer alguma coisa, chegaram os bombeiros e limitei-me a pedir às pessoas para se afastarem. Como não podia fazer mais nada, prossegui a minha prova com a firme convicção que o caso era grave. Pouco depois ouvi alguém a falar em ataque de epilepsia, o que me fez sossegar um pouco e até consegui esquecer a situação, mas infelizmente, no final da prova fiquei a saber que o final foi trágico... que descanse em paz.

Daqui para a frente, e bastante alterado pelo que acabara de presenciar, limitei-me a tentar colocar uma perna à frente da outra, esquecer o que vira e recuperar algum do tempo perdido (cerca de 1min). A partir do km 4 entrei no ritmo e forcei um pouco, com uma média à volta dos 04:50 por km, em alguns casos abaixo, o que daria para recuperar até ao final.
No entanto, no retorno feito no Furadouro, apanhámos com a famosa nortada numa recta algo longa, o que me fez perder logo aí a quase totalidade do que tinha recuperado. Mais à frente, por volta do km 15, comecei a sentir a falta da comida (nesta prova só dão água nos abastecimentos) mas não desarmei! Fui sempre abaixo dos 5m/km até ao último km!! O problema do km 21, para além ser o último, é que foi todo feito a levar com o raio da nortada quando já ia completamente nas últimas... resultado: 6:17 no último km e um tempo total de prova de 1h 47m e 42s.

Como já disse hoje a alguém, o objectivo inicial não foi cumprido, mas depois de vermos um homem perder a vida à nossa frente, começamos a olhar para estas coisas com outra perspectiva... :(
Aquela expressão facial e a postura do corporal em convulsão ainda não me saíram da cabeça.
A vida às vezes é mesmo uma merda...